A deficiência de vitamina D se tornou um dos diagnósticos mais comuns dos últimos anos — e, ao mesmo tempo, um dos mais mal compreendidos.
Muita gente sofre carência de vitamina D sem sentir absolutamente nada — ou sente tudo, mas não liga uma coisa à outra. Cansaço sem motivo, dores no corpo, imunidade baixa, oscilações de humor, insônia leve…
Mas qual a diferença entre um nível “baixo” e um nível clinicamente preocupante? E será que todo mundo com vitamina D baixa precisa suplementar, ou estamos diante de mais um excesso de zelo mal interpretado?
Se seus exames estão mostrando falta deste nutriente ou se você simplesmente quer se informar, continue lendo. Abaixo, falaremos tudo sobre como identificar e tratar a deficiência de vitamina D.

Os benefícios da vitamina D
A vitamina D não serve só para fortalecer ossos. Claro, essa é a função mais conhecida, porque ajuda o corpo a absorver cálcio. Mas se você parar por aí, está perdendo a parte mais interessante.
Primeiro, ela é fundamental para o sistema imunológico. Pesquisas mostram que níveis adequados de vitamina D estão ligados a uma resposta mais eficiente contra infecções.
Isso explica por que muitos ficam mais doentes no inverno, quando a exposição ao sol — nossa principal fonte de vitamina D — diminui.
Outro ponto pouco falado é a relação com a saúde mental. Estudos observacionais associam a deficiência de vitamina D a um maior risco de transtornos como depressão e ansiedade.
Não dá para dizer que a vitamina cura esses problemas, mas manter níveis adequados parece ser um fator de proteção.
E não podemos esquecer os músculos. A vitamina D influencia a força muscular e o equilíbrio, especialmente em idosos.
Quem tem carência de vitamina D costuma sentir mais fraqueza e fadiga, o que aumenta o risco de quedas. É um detalhe que faz diferença na qualidade de vida, principalmente conforme a idade avança.
Vitamina D2 e D3: qual a diferença?
Se você já se confundiu com os tipos de vitamina D, não está sozinho. A D2 (ergocalciferol) e a D3 (colecalciferol) são as duas formas disponíveis, mas não são iguais.
A vitamina D3 é a que seu corpo produz naturalmente quando a pele é exposta ao sol. Já a vitamina D2 vem de fontes vegetais, como cogumelos expostos à luz ultravioleta.
Estudos indicam que a D3 é mais eficaz em elevar e manter os níveis de vitamina D no sangue. Ela está presente em peixes gordurosos (salmão, atum), gema de ovo e fígado.
A D2, por sua vez, aparece em alimentos fortificados, como alguns leites vegetais e cereais. Para veganos, esta forma pode ser uma opção melhor, mas muitos suplementos já usam D3 derivada de líquens, fechando essa lacuna.
Em todo caso, tanto a D2 quanto a D3 precisam passar por transformações no fígado e nos rins para se tornarem ativas.
Esse processo pode ser prejudicado em pessoas com condições hepáticas ou renais, aumentando o risco de deficiência de vitamina D. Por isso, quem tem essas condições precisa de acompanhamento médico.

Sintomas da deficiência de vitamina D
A deficiência de vitamina D é silenciosa. Você pode passar anos sem notar nada, até que pequenos sinais começam a se acumular. Um dos motivos é que ela afeta múltiplos sistemas do corpo, desde a saúde óssea até o humor.
Pessoas que vivem em regiões com pouca luz solar, como países do norte, são mais vulneráveis, mas mesmo em lugares ensolarados, o problema existe.
Idosos e pessoas com pele mais escura estão entre os grupos de maior risco. A melanina, que protege contra os raios UV, reduz a produção de vitamina D. Já os idosos têm menor capacidade de sintetizá-la pela pele.
Além disso, condições como obesidade interferem na absorção, pois a vitamina é armazenada no tecido adiposo, ficando menos disponível para o corpo.
Se você se encaixa em alguma dessas situações e acredita ter deficiência de vitamina D, esteja atento aos seguintes sintomas:
- • Fadiga persistente sem causa aparente;
- • Dores musculares ou ósseas difusas;
- • Queda de cabelo acentuada;
- • Cicatrização lenta de feridas;
- • Maior frequência de infecções (como gripes recorrentes);
- • Alterações de humor, incluindo irritabilidade;
- • Fraqueza muscular, principalmente nas pernas;
- • Cãibras frequentes;
- • Dificuldade de concentração;
- • Sensação de “peso” nas pernas ao subir escadas.
Complicações da deficiência de vitamina D
A deficiência de vitamina D não é só uma questão de cansaço ou dor nas costas. Ela interfere em processos que a maioria das pessoas nem imagina.
Por exemplo, o sistema cardiovascular sofre quando os níveis estão baixos: estudos ligam a carência de vitamina D a um maior risco de hipertensão e até alterações na função endotelial (a camada que reveste os vasos sanguíneos).
Pesquisas sugerem que a falta de vitamina D pode desregular o sistema imunológico, aumentando a predisposição a condições autoimunes.
E tem mais: a saúde mental também é afetada. Baixos níveis de vitamina D estão associados a um maior risco de declínio cognitivo em idosos, incluindo Alzheimer.
Também é comum:
- • Aumento do risco de fraturas ósseas, mesmo sem trauma significativo;
- • Desenvolvimento de osteomalácia (amolecimento dos ossos) em adultos;
- • Agravamento de condições cardiovasculares, como insuficiência cardíaca
- • Maior propensão a infecções respiratórias, incluindo pneumonia;
- • Piora no controle da glicemia em pessoas com diabetes tipo 2;
- • Progressão acelerada de condições autoimunes, como lúpus;
- • Associação com quadros de depressão resistente a tratamentos convencionais;
- • Potencial ligação com câncer de cólon e mama em estudos observacionais;
- • Risco elevado de parto prematuro em gestantes com níveis insuficientes;
- • Redução da eficácia de vacinas em casos de carência grave.
Como é feito o diagnóstico da falta de vitamina D?
O exame de sangue é a única maneira confiável de medir os níveis de vitamina D. Ele dosa a forma 25-hidroxivitamina D (calcidiol), que reflete os estoques corporais.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) recomenda manter níveis entre 30 e 60 ng/mL. Abaixo de 30 ng/mL, considera-se necessário intervenção.
Para crianças, o cuidado é redobrado. Valores abaixo de 20 ng/mL exigem investigação de raquitismo, incluindo dosagem de cálcio, fósforo, magnésio, fosfatase alcalina e PTH. Se houver suspeita, o próximo passo é a radiografia de mãos, punhos, joelhos ou tórax.
Grupos de risco para deficiência de vitamina D
Algumas pessoas estão em maior risco de desenvolver deficiência de vitamina D devido a múltiplos fatores. Por exemplo:
- • Pessoas com pele escura: A melanina reduz a produção de vitamina D em até 90% em comparação a peles claras. Afrodescendentes precisam de até 6 vezes mais exposição solar para atingir níveis adequados;
- • Idosos acima de 65 anos: A pele envelhecida produz menos vitamina D, e a capacidade renal de convertê-la em sua forma ativa diminui;
- • Obesos: O tecido adiposo sequestra a vitamina D, tornando-a menos disponível para a circulação sanguínea;
- • Pacientes com disfunções intestinais: Doença de Crohn e síndrome do intestino irritável comprometem a absorção de nutrientes lipossolúveis, como a vitamina D;
- • Trabalhadores noturnos ou de escritório: A exposição solar limitada é um fator crítico, especialmente em países com invernos rigorosos;
- • Gestantes e lactantes: A demanda aumenta para suprir as necessidades do feto e do leite materno, mas muitas não ajustam a ingestão;
- • Pacientes renais crônicos: Os rins são responsáveis pela conversão da vitamina D em sua forma ativa; quando falham, esse processo é prejudicado.
Qual profissional faz o tratamento da deficiência de vitamina D?
Endocrinologistas são os mais indicados para conduzir o diagnóstico, especialmente quando há suspeita de complicações metabólicas, como alterações no cálcio ou suspeita de alterações ósseas.
Eles são especialistas em hormônios e metabolismo, o que os coloca na linha de frente para casos persistentes de deficiência de vitamina D.
Nutricionistas complementam o tratamento com orientações dietéticas e prescrição de suplementos em caso de deficiência confirmada.

Tratamentos para a deficiência de vitamina D
As intervenções são indicadas apenas quando há sintomas claros (como dor óssea ou fadiga extrema), confirmação sérica de deficiência ou nível limítrofe da vitamina ou quando a pessoa pertence a grupos de risco.
Agora, vamos falar da estratégia mais básica – e muitas vezes negligenciada – para combater a carência de vitamina D.
1. Exposição solar
A luz solar é a forma mais natural de obter vitamina D, mas não é tão simples quanto parece. A síntese cutânea depende de fatores como horário, latitude, cor da pele e tempo de exposição.
Em regiões tropicais, bastam 15 a 30 minutos diários de sol nos braços e pernas, sem protetor solar, para produzir quantidades adequadas. Já em países com inverno rigoroso, esse método se torna inviável por meses.
Horários entre 10h e 15h são ideais, pois a radiação UVB – essencial para o processo – está mais presente.

2. Suplementação oral em altas doses
A suplementação oral em altas doses de vitamina D é um tema que divide opiniões.
Por um lado, ela pode ser essencial para quem tem deficiência grave ou condições que impedem a absorção adequada. Por outro, o uso sem critério traz riscos reais – desde náuseas até complicações mais sérias, como hipercalcemia (excesso de cálcio no sangue).
Médicos costumam prescrever protocolos curtos e intensivos para casos sintomáticos, seguidos de manutenção.
Por exemplo, uma pessoa com deficiência de vitamina D confirmada pode receber uma dose semanal elevada de 50.000 UI por um mês, depois migrar para uma dosagem mensal.
Contudo, estudos mostram que megadoses (acima de 10.000 UI/dia) não trazem benefícios extras e podem sobrecarregar rins e fígado.
Outro ponto é a ser considerado é a forma da suplementação. A vitamina D3 (colecalciferol) é preferida por ter maior biodisponibilidade, mas veganos podem optar pela D2 (ergocalciferol), menos potente.
Agora, se você está pensando em suplementar por conta própria, pare. A falta de vitamina D não é algo para ser resolvido sem orientação. E se a ideia é evitar o problema desde o início, a alimentação pode ser uma aliada.
3. Dieta rica em vitamina D
Peixes gordurosos como salmão, sardinha e atum lideram a lista de alimentos que contém vitamina D, seguidos por óleo de fígado de bacalhau e gema de ovo.
Para veganos, cogumelos expostos à luz ultravioleta são uma opção, mas fornecem vitamina D2, que o corpo converte menos eficientemente.
Alimentos fortificados entram como alternativa prática. Leites vegetais, cereais matinais e margarinas ajudam, mas é preciso verificar rótulos: a quantidade varia entre marcas. Mesmo assim, depender só da dieta raramente resolve casos de deficiência de vitamina D instalada.

Como prevenir a deficiência de vitamina D
A exposição solar sensata é o primeiro passo: braços e pernas ao sol por 10-15 minutos diários, sem protetor, já fazem diferença.
Quem trabalha em ambientes fechados pode tentar pausas rápidas ao ar livre. Um café na varanda ou uma caminhada na hora do almoço ajudam.
Em locais com pouca luz solar no inverno, suplementos em doses baixas (800-1000 UI/dia) são uma opção preventiva.
Grupos de risco – como idosos, gestantes e pessoas com condições crônicas – devem priorizar check-ups regulares. A prevenção aqui é ativa: monitorar níveis de vitamina D periodicamente evita surpresas.
Conclusão
A deficiência de vitamina D é um problema que exige múltiplas abordagens. Não há uma solução única: sol, dieta e suplementação se complementam conforme necessidades individuais.
Grupos de risco precisam de atenção redobrada, mas mesmo quem parece saudável pode ter níveis insuficientes. O caminho é combinar conscientização com ações práticas, sempre respaldadas por profissionais.
Consulte um nutricionista para te orientar em relação à dieta para deficiência de vitamina D.