A deficiência de vitamina B12 é um dos desequilíbrios nutricionais mais subdiagnosticados hoje.
E parte do problema está justamente na forma como ela é negligenciada: exames limitados, faixas de referência ultrapassadas e uma crença equivocada de que esse nutriente só falta em quem é vegano.
Errado! Carnívoros também sofrem com ela. Jovens, atletas, pessoas com rotinas estressantes, mulheres com SOP, gastrite, intestino irritável, ou histórico de uso de anticoncepcional — todos são candidatos a uma deficiência de B12.
Se você sente que sua energia sumiu, que sua mente não é mais a mesma e ninguém sabe te explicar o porquê, talvez a resposta esteja aqui.
Abaixo, compilamos tudo o que você precisa saber para identificar, interpretar e tratar a deficiência de B12.

Benefícios da vitamina B12
Quimicamente conhecida como cobalamina, a vitamina B12 atua na formação de glóbulos vermelhos, a síntese de DNA e a manutenção do sistema nervoso. Sem ela, o corpo simplesmente não funciona direito.
A principal função da vitamina B12 está ligada à produção de hemácias. Ela ajuda a evitar a anemia megaloblástica, condição em que as células sanguíneas ficam grandes, frágeis e incapazes de transportar oxigênio.
Além disso, a vitamina é importante para a integridade dos neurônios. Ela participa da formação da bainha de mielina, uma capa protetora ao redor dos nervos que acelera a transmissão de impulsos elétricos.
Quando essa camada se desgasta – algo comum em casos de B12 baixa –, os sinais entre o cérebro e o corpo ficam comprometidos. É assim que começam os sintomas como formigamentos e dificuldade de coordenação.
A vitamina também está envolvida no metabolismo energético, ajudando a transformar carboidratos em glicose, que alimenta as células. Por isso, um dos primeiros sinais de deficiência de vitamina B12 é a fadiga inexplicável.
Mas há um detalhe importante: o corpo humano não armazena B12 em grandes quantidades. O fígado guarda uma reserva limitada, suficiente para alguns anos.
Depois disso, a falta de reposição leva a problemas sérios. E o pior: quando os sintomas aparecem, o déficit já está instalado há meses.
O que causa deficiência de vitamina B12?
A deficiência de vitamina B12 não é um problema raro. Em idosos, estudos mostram que até 40% podem ter níveis inadequados. Entre veganos, esse número ultrapassa 80%, e em quem passou por cirurgias bariátricas, a taxa chega a 70% após alguns anos.
As causas se dividem em quatro categorias principais. A primeira é a má absorção intestinal. Para a B12 ser absorvida, ela precisa se ligar a uma proteína chamada fator intrínseco, produzida no estômago.
Condições como anemia perniciosa – onde o sistema imunológico ataca as células estomacais que produzem essa proteína – impedem esse processo.
A segunda causa são intervenções cirúrgicas. Cirurgias bariátricas (bypass) reduzem o tamanho do estômago ou desviam parte do intestino, limitando a produção de ácido estomacal e o contato da B12 com o fator intrínseco.
A terceira causa envolve hábitos alimentares prolongados. Dietas veganas ou vegetarianas sem suplementação adequada levam à deficiência de B12 porque a vitamina está presente quase exclusivamente em produtos animais.
Idosos com dietas pobres em proteínas e pessoas com alcoolismo crônico também entram nesse grupo, já que o álcool danifica o revestimento do estômago.
E o uso crônico de medicamentos interfere na absorção. Antiácidos (como omeprazol) reduzem a acidez estomacal necessária para liberar a B12 dos alimentos.
Já a metformina, usada no tratamento do diabetes, diminui a absorção intestinal da vitamina.

Quais sintomas indicam falta de vitamina B12?
Os sintomas da deficiência de vitamina B12 se dividem em duas categorias: físicos e neurológicos.
Os físicos são mais fáceis de notar, mas nem sempre levam a um diagnóstico correto. Os neurológicos, por sua vez, podem ser irreversíveis se não tratados a tempo.
Entre os sintomas físicos, a fadiga crônica é o mais comum. Não é aquela canseira pós-treino, mas uma exaustão que não melhora com repouso. Também ocorre:
- Pele pálida ou amarelada (icterícia): Resultado da anemia associada à deficiência de B12;
- Falta de ar, tonturas e palpitações: Ocorrem porque o sangue não transporta oxigênio adequadamente;
No campo neurológico, os primeiros sinais são formigamento nas mãos e pés, como se a pele estivesse “adormecida”.
Com o tempo, a dormência evolui para dificuldades de equilíbrio e coordenação motora – alguns pacientes tropeçam sem motivo aparente.
Alterações cognitivas, como esquecimento e confusão mental, são frequentes, especialmente em idosos.
Em casos extremos, a deficiência de B12 pode simular demência ou até desencadear problemas psiquiátricos, como depressão e paranoia.

Como é feito o diagnóstico?
Se você desconfia que está com deficiência de vitamina B12, o primeiro passo é confirmar com exames. O método mais comum é o exame de sangue que mede os níveis séricos de B12. Vamos aos detalhes que importam.
Os valores de referência variam entre laboratórios, mas o consenso da Associação Brasileira de Nutrologia sugere a seguinte classificação:
- Normal: acima de 300 ng/L;
- Limítrofe: entre 190 e 300 ng/L;
- Deficiente: abaixo de 190 ng/L;
Só que esses números não contam a história toda. Pessoas com níveis “normais” (acima de 300 ng/L) podem ter deficiência funcional de B12.
Isso acontece quando a vitamina está presente no sangue, mas não é ativa ou não chega aos tecidos que precisam dela.
Por isso, outro exame útil é a dosagem de ácido metilmalônico (MMA) e homocisteína. Ambos aumentam quando há deficiência de vitamina B12, pois ela é necessária para metabolizar essas substâncias.
Se o MMA e a homocisteína estiverem altos, mesmo com B12 sérica limítrofe, o diagnóstico é confirmado.
Deficiência sérica e funcional
Um estudo de 2012 investigou se níveis considerados “normais” de vitamina B12 realmente sustentam uma boa função neurológica em adultos mais velhos.
A pesquisa foi feita com dados do Health ABC Study, que acompanha uma coorte de pessoas de 70 a 79 anos desde o fim dos anos 1990.
Foram analisados 2.326 participantes com exames de sangue feitos entre 2000 e 2001, além de testes neurológicos periféricos (sensibilidade tátil, vibração, condução nervosa) e centrais (velocidade de processamento mental).
O objetivo era entender se existe um “nível limiar” de vitamina B12 no sangue que indique proteção para o sistema nervoso, tanto periférico quanto central.
Atualmente, o valor de corte clínico para deficiência de B12 é em torno de 200 pmol/L, mas este estudo foi além: procurou identificar se níveis considerados normais ainda poderiam impactar a saúde neurológica.
Após a análise dos resultados, os pesquisadores identificaram que níveis de vitamina B12 acima de 400 pmol/L estavam associados a melhor condução nervosa e menor declínio cognitivo com o tempo.
Especificamente:
- A velocidade de condução nervosa peroneal (NCV) foi melhor em pessoas com B12 acima de 390 pmol/L;
- O desempenho no teste cognitivo foi mais preservado com níveis acima de 410 pmol/L;
- A sensibilidade tátil também era melhor em níveis acima de 410 pmol/L.
Ou seja, embora muitas pessoas idosas tenham níveis considerados “suficientes” de vitamina B12, esses valores podem ser inadequados para preservar plenamente a função neurológica.
Níveis ideais podem ser quase três vezes mais altos do que o limiar clínico tradicional. Assim, os autores recomendam que talvez seja necessário revisar os níveis considerados ideais dessa vitamina.

Quais são as complicações da deficiência de vitamina B12?
A complicação mais conhecida é a anemia megaloblástica, caracterizada por glóbulos vermelhos grandes e disfuncionais. O sangue não transporta oxigênio direito, levando a fadiga crônica, palpitações e falta de ar. Mas essa é só a ponta do iceberg.
No sistema nervoso, a falta de B12 causa degeneração da bainha de mielina, a capa protetora dos nervos.
Isso resulta em neuropatia periférica (formigamento nas extremidades), perda de equilíbrio e, em estágios avançados, paralisia.
Idosos são especialmente vulneráveis: estudos associam a deficiência de B12 a quadros de demência reversível, mas se o dano neuronal for prolongado, a deterioração cognitiva torna-se permanente.
Outra complicação subestimada é o aumento do risco cardiovascular. Níveis elevados de homocisteína (devido à B12 baixa) lesionam as paredes dos vasos sanguíneos, facilitando a formação de coágulos e placas de ateroma. Isso eleva as chances de infarto e AVC.
No sistema digestivo, a deficiência prolongada pode agravar distúrbios de absorção intestinal, criando um ciclo vicioso: sem B12, o intestino não se regenera adequadamente, piorando a absorção de nutrientes.
Mulheres grávidas com B12 baixa enfrentam riscos adicionais: malformações fetais (como defeitos do tubo neural) e parto prematuro. A vitamina é crucial para o desenvolvimento do sistema nervoso do bebê.
E ainda há impactos psiquiátricos. A deficiência de vitamina B12 está ligada a depressão resistente a medicamentos, psicose e alucinações.
Muitos pacientes são tratados apenas com antidepressivos, enquanto a causa real (a carência nutricional) passa despercebida.

Tratamentos para deficiência de vitamina B12
O tratamento da deficiência de vitamina B12 depende de fatores como a causa da carência, a gravidade dos sintomas e as particularidades de cada pessoa.
Seja qual for o caso, o objetivo é sempre o mesmo: repor os níveis da vitamina e evitar danos permanentes.
A boa notícia é que todas as opções são eficientes quando bem aplicadas. Desde suplementos até ajustes no estilo de vida, as escolhas devem ser guiadas por um profissional.
1. Reposição oral
Os suplementos orais de vitamina B12 são a primeira opção para muitos casos. Eles estão disponíveis em comprimidos, cápsulas ou formas sublinguais (que dissolvem sob a língua).
A limitação está em casos de deficiência severa com sintomas neurológicos. Nesses pacientes, a reposição oral pode ser muito lenta para reverter danos.
Para quem não tolera comprimidos, a versão sublingual é uma alternativa. Ela dissolve-se rapidamente na boca, permitindo absorção pela mucosa oral. A eficácia é similar à forma tradicional.
2. Vitamina B12 injetável
A forma injetável é reservada para casos graves ou quando a absorção intestinal está comprometida.
As injeções intramusculares contêm cianocobalamina, metilcobalamina ou hidroxocobalamina, formas sintéticas da B12 que entram direto na corrente sanguínea.
Para deficiência de vitamina B12 sem sintomas neurológicos, aplica-se 1000 mcg a cada 2-3 dias por duas semanas, seguido de doses mensais.
Se houver danos neurológicos (como formigamento ou perda de equilíbrio), o tratamento é mais intenso: 1000 mcg diários por até 2 semanas, depois semanalmente por um mês, e manutenção mensal.
A vantagem é a rapidez. Em 48 horas, os níveis sanguíneos sobem, e sintomas como fadiga começam a melhorar. Os efeitos colaterais são raros, mas incluem dor no local da injeção, acne e coceira.
3. Ajustes na dieta
A vitamina B12 está presente naturalmente em alimentos de origem animal: carnes, peixes, ovos e laticínios.
Para quem tem deficiência leve por baixo consumo (como vegetarianos não suplementados), incluir esses itens na dieta pode elevar os níveis gradualmente.
A questão é que isso só funciona se o intestino estiver saudável. Por exemplo: uma pessoa que não tem problemas de absorção pode reverter a deficiência de B12 consumindo fígado bovino ou atum regularmente.
Mas para veganos de longa data ou quem tem doenças digestivas, a dieta sozinha raramente resolve.

Como prevenir a deficiência de vitamina B12?
Prevenir a deficiência de vitamina B12 não é complicado, mas exige atenção – especialmente se você faz parte de um grupo de risco.
Para quem não tem problemas de absorção, a prevenção pode ser tão simples quanto consumir alimentos ricos em B12. Carnes, peixes, ovos e laticínios são fontes diretas. No entanto, essa abordagem não serve para todos.
Veganos e vegetarianos estritos, por exemplo, precisam recorrer a suplementos ou alimentos fortificados desde o primeiro dia da dieta. Esperar até surgirem sinais de falta de vitamina B12 é perigoso.
Quem tem condições crônicas (como doença de Crohn ou gastrite atrófica) deve dosar a B12 pelo menos uma vez ao ano.
O mesmo vale para idosos, já que o envelhecimento reduz naturalmente a produção de ácido estomacal, necessário para absorver a vitamina.
Conclusão
A deficiência de B12 não é um problema simples. Ela atravessa múltiplos sistemas, e ignorá-la pode custar caro.
A boa notícia é que o tratamento existe – e na maioria dos casos, é barato e efetivo. Mas isso depende de um diagnóstico preciso.
Portanto, se você sofre de deficiência de vitamina B12, consulte um nutricionista para ajustar sua dieta e te ajudar a corrigir este problema!